Talvez movido por uma carência
afetiva e fragilidade emocional congênitas, eu já pensava em acabar com o
Blogson pouco mais de um ano após tê-lo criado. O motivo? Ora, o que sempre
permeou vários posts do blog: reclamações sobre a falta de inspiração, de assunto,
pouco ou nenhum comentário, ausência de feedback, etc. Coisa de gente imatura -
apesar da idade provecta. Apesar disso, fui capengando, reclamando,
rezingando até agosto de 2016, quando efetivamente dei uma parada
(que julgava eterna) no blog. Foi nessa época que minha mulher criou um perfil
para mim no Facebook.
No início achei divertidíssimo, pois
tudo era novidade para mim e eu era novidade para meus “amigos de
facebook”. Qualquer bobagem que eu postava era curtida e comentada por um
público extremamente amistoso e generoso. Aquilo era “música para meus
ouvidos”. Mas aos poucos comecei estranhar a caretice e a pieguice dos
posts que meus “amigos” compartilhavam: muita florzinha, muito
filhotinho de bicho (de gente também), muitas orações e correntes
ameaçadoras (”se você...”). Comecei a ficar de saco cheio daquilo e
a sentir falta do blog. Acabei voltando à “blogosfera”, mas continuei com o meu
perfil do Facebook.
Por isso mesmo, comecei a postar
críticas irônicas ao Lula, à Dilma e ao PT de forma geral, tal já fazia no
blog. Creio que foi nessa época que o movimento “pé na bunda da Dilma” começou
a criar corpo. E eu lá, só fazendo trocadilhos e piadas infames – no blog e no
Facebook.
Com a saída da Anta,
comecei a torcer muito para que o Temer pusesse a economia de novo nos trilhos.
Mas o friboy Joeslei fodeu com tudo, ao revelar uma conversa
fora do horário e da decência. Sem contar o Loures com sua mala. Aqui cabe um
parêntese: o “papagaio” foi filmado quase correndo com a mala de dinheiro na
mão. Talvez ele tenha ouvido a frase “dá o pé, louro!” e
traduzido para “dá no pé, Loures!”
As eleições aconteceram, o Meirelles
(meu candidato preferencial) não passou para o segundo turno, o Bolsonaro tomou
uma facada providencial - pois isso o impediu de falar merda - e acabou sendo
eleito por todos os que não queriam ver o PT nem pintado de verde (se fosse
outro partido, diria “nem pintado de vermelho”).
Graças à sua incontinência verbal,
boçalidade, preconceito, radicalismo, falta de preparo, de cultura, de educação
e, agora, de compaixão, o Bozo começou a ser motivo de críticas e piadas, tal
como aconteceu anteriormente com a Anta. E eu também entrei nessa, pois sou
contra qualquer tipo de extremismo, de radicalismo. Por isso mesmo, comecei a fazer
piadinhas que posto no Facebook.
O curioso dessa história toda foi
descobrir que alguns de meus amigos (reais ou de facebook) são de extrema
direita e outros de extrema (ou quase isso) esquerda. Obviamente, sempre que
postam alguma idiotice de acordo com sua visão, acabo ironizando ou criticando
seriamente. Com isso, deixo todo mundo puto (exceto os que continuam a postar
florzinhas e cãezinhos ou bebês risonhos). Por conta dessa minha atitude
independente e moderada, fiz ontem um comentário que provocou uma das reações
mais iradas que jamais poderia imaginar. O caso é o seguinte:
Um de meus amigos adeptos do “Lula
livre” compartilhou um post com esses dizeres: (transcrição literal):
Lula não venderia a Petrobras, nem a
Embraer, nem destruiria a Amazônia, nem entregaria Alcântara, nem destruiria a
CLT nem a sua aposentadoria. Por isso tá preso seu imbecil!
(a autora identificou-se como Dilma
Mais Que Bolada)
Não resisti a essa
idiotice nacionalista e comentei:
Na verdade, está
preso por ter recebido “mais que bolada”.
Meu amigo (real)
reagiu na hora:
Tá bom então, enumere o que ele
roubou por favor
Minha resposta foi
ironizar:
Ele não roubou,
apenas recebeu melhorias no triplex, no sítio...
Foi nesse momento
que eu “ouvi o latido de um cachorro louco”:
...seu cu, palhaço!
Fiquei surpreso coma reação vinda de
quem nunca tinha visto antes. Poderia tê-lo mandado tomar no cu ou à puta que o
pariu, mas continuei na ironia:
O que me encanta é
a delicadeza que leio nos comentários de desconhecidos. Eu sou contra o PT e
contra o Bolsonaro, mas parece que você é a favor apenas da grosseria anônima.
Eu, sinceramente, tenho pena de gente como você, pois parece um bolsominion
espelhado, um bolsominion de esquerda.
Novo latido:
...foda-se para o
que vc pensa, fascista!
Ser chamado de
fascista é ofensa que não tolero, mas consegui segurar a vontade de mandar o
cara enfiar o fascio no cu e respondi:
lamento te
decepcionar, mas não sou fascista. Nem idiota como você...
Nesse ponto,
entrou meu amigo real para baixar a fervura (ou prender na coleira):
o José Pinto é meu
vizinho e conhecido de muitos anos. O Considero como um irmão mais velho. Ele
não é radical em seu posicionamento político, e acho que nem nos devemos ser
radicais. O José é um cara muito culto, esclarecido e muito educado. Ao invés
de agredirem, argumentem. Ele tem todo o direito de ter a sua opinião. Como eu
disse, ele não é radical e tem bons argumentos.
Mas o cachorro
ainda continuou a babar:
perdoe-me, porém
esse fascista fala sentado apenas em seus preconceitos, não tem prova contra
Lula, nem contra ninguém da esquerda. Estamos vendo aí todo dia o escárnio que
foi essa farsa a jato. Infelizmente é seu amigo, mas conheço essa gente de
longe, é gente de segunda classe e sem dignidade.
Agora, vê se eu
aguento um babaca desses! Um sujeito cheio de certezas e preconceitos definidos
me chamando de preconceituoso! Para mim, sua reação destemperada, passional e
equivocada realmente lembra as coisas que leio no Facebook postadas pelos meus
amigos bolsominions, apenas com sinal trocado.
Como eu sempre fui
da paz, daqueles que “dão um boi para não entrar em uma briga e uma
boiada para sair dela”, resolvi deixar pra lá. Como teria
dito Sócrates a seus discípulos a propósito de Xantipa, a megera com quem era
casado e que acabara de lhe jogar um balde de “água servida”: “Já basta
um(a) idiota, não são necessários dois” (segundo li em algum lugar,
ela o considerava “um vadio imprestável”).
Esse episódio
bizarro serviu para que eu deixasse este comentário final (que não foi
respondido por ninguém):
Há muito preconceito? Há desrespeito e até ofensa
pessoal? Há excesso de intolerância? Falta compaixão e solidariedade? Bezerros
de ouro, vacas sagradas e falsos ídolos são adorados por uns e odiados por
outros? Mentiras e meias verdades circulam livremente? Opiniões ponderadas e
senso crítico estão esgotados? Serenidade, equilíbrio e moderação estão em
falta? Cuidado, pois você está dentro de uma rede (anti) social!