sexta-feira, 21 de abril de 2017

RECRUTA VALDEMAR

Outro dia eu li na internet que o "Princípio da Gravitação Universal e a Teoria da Relatividade podem ser frutos do intelecto de dois autistas. Dois grandes gênios da ciência, diga-se de passagem, Albert Einstein e Isaac Newton, possivelmente sofriam da síndrome de Asperger (SA), uma forma amena de autismo, segundo notícia divulgada pela Reuters esta semana e publicada no Journal of the Royal Society of Medicine, da Inglaterra.

O distúrbio foi descoberto pelo médico austríaco Hans Asperger em 1944, e ocorre em função de um problema de desenvolvimento cerebral que causa deficiências nas faculdades sociais e de comunicação, assim como obsessão. Entretanto a SA não afeta o aprendizado, nem o intelecto. Muitos portadores dessa síndrome possuem talentos ou habilidades extraordinárias.

Os pesquisadores da Universidade de Cambridge e da Universidade de Oxford, estudaram as personalidades e a biografia de Einstein e Newton. Isaac Newton é nitidamente um caso clássico da síndrome de Asperger. Não falava e esquecia de comer, tamanho seu envolvimento com o trabalho. Começou a desvendar a lei da gravidade aos 23 anos, era um sujeito distante, de poucas palavras, e freqüentemente tinha acessos de mau humor. Desde a infância, quando se apaixonava por um tema, ele o fazia com tanta intensidade que se impunha longos períodos de solidão para estudá-lo. Outros traços da síndrome de Asperger, o desleixo com a aparência e a mania de reescrever até vinte vezes os seus estudos, sem fazer quase nenhuma alteração de uma cópia para outra".

Essas informações fizeram com que me lembrasse de outra característica do Newton, que li em algum lugar. Sir Isaac Newton, uma das maiores e mais brilhantes mentes que a humanidade já produziu, era quase um crápula. Era rancoroso, inseguro e vingativo. Devido ao ódio que devotava ao cientista que o antecedeu, mandou queimar seu único retrato conhecido ao assumir a presidência da Royal Society de Londres. Há outros casos de gente brilhante, genial em suas profissões, mas com comportamento totalmente reprovável. O pintor Caravaggio, por exemplo, era quase um marginal, apesar de gênio da pintura.


Quem leu até aqui e está se perguntando o que eu estou tentando dizer, pode relaxar, pois o motivo começa agora a ser revelado. Mas antes, preciso dizer que este é um texto bobo, mais bobo que os normalmente publicados aqui no Blogson. Serve apenas para registrar alguns pensamentos e ideias que vêm me atormentando há vários meses. E a causa disso são opiniões - às vezes inflamadas - emitidas por artistas, "intelectuais" e políticos em entrevistas, bate-bocas e todo tipo de meios adequados à depreciação e ao patrulhamento de quem não pensa igual a eles. Então, se eu disser apenas platitudes e reflexões acacianas é porque eu sou assim mesmo, um sujeito de pouco conteúdo. Bora lá.


Eu tinha quase quatorze anos quando o golpe ou revolução de 1964 aconteceu. Sendo de uma família anticomunista, nessa época eu já tinha pavor do comunismo, mesmo que não entendesse o que isso significava. Só sabia que era ruim. Afinal, como cantou o Paulinho da Viola, "tinha eu quatorze anos de idade". Mesmo assim, meu pai enfatizou várias vezes para não falar nada com estranhos, pois nunca se sabia se eram informantes do DOPS ou não. O "nada" seria qualquer coisa contra ou a favor dos militares.

Fui crescendo com aquele pavor de poder ser afetado por algum mal entendido, ao ponto de me tornar totalmente alheio à política, fosse ela de qualquer matiz ou direção. Meu negócio era rock, minha praia era a música, cinema, livros, a "cultura" e a contracultura, os quadrinhos exclusivos e desconhecidos da maioria. Eu queria ser intelectual.

Por volta dos meus dezessete, dezoito anos, um cantor começou a fazer um sucesso fantástico, fenomenal. Era o Wilson Simonal. Tudo (ou quase tudo) o que ele gravava logo caia na boca do povo, pois ele punha tanto suingue e balanço na interpretação, que transformava qualquer merda em hit, em sucesso. Até "meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá".

Lembro-me de uma música que tem algo a ver com este post. O título é "Recruta Valdemar" e tem estes versos:

Valdemar é um recruta biruta
que não sabe nem marchar
e qualquer voz de comando
"Esquerda!", "Direita!"
tonteia o Valdemar

Eu era como o recruta Valdemar, pois ficava tonto com esse papo de direita e esquerda. Por isso, não entendi na época o que aconteceu com o Simona. Só muito depois é que fui saber o motivo de sua carreira artística ter literalmente acabado. Alguém divulgou (aparentemente sem apuração) que o Simonal teria usado agentes do Dops para dar um pau em um funcionário que teria lhe dado cano. E a notícia se espalhou (ou viralizou, como se diz hoje). Se isso é verdade ou não, pouco importa. Ele devia conhecer todo mundo, pessoas de todas as convicções políticas, mas o fato de (supostamente) usar "o regime" por interesse pessoal foi demais para a "intelligentsia" nacional, que o viu como colaborador do regime militar, um dedo-duro, portanto. A mídia em peso gelou o sujeito, não falou mais nada sobre ele a não ser para descer o cacete. O cartunista Henfil criou um personagem que era a cara dele, com uma faixa amarrada na testa, tal como fazia o cantor. O detalhe era um dedo indicador anormalmente longo, o "dedo duro". E o Simonal sumiu.

Pensando nessas coisas e na reação apaixonada que o tema Direita versus Esquerda provoca nas pessoas, fiquei tentado a expor um pensamento que me incomoda muito e que é o tema real do post de hoje: 

Ninguém é um crápula apenas por ser de direita! Da mesma forma, ninguém é um canalha apenas por alinhar-se com o pensamento de esquerda. 

São as convicções e crenças pessoais que fazem uma pessoa ser de direita ou de esquerda (óbvio, não é?). Para mim, quem é de direita é mais centrado em si mesmo, mais adepto do mérito pessoal, das conquistas individuais, mais egocêntrico, mais individualista. Já os de esquerda seriam mais idealistas, sonhadores, estariam mais focados em uma sociedade mais justa (o que quer que isso signifique), nos mais desfavorecidos, na eliminação do desnível sócio-econômico, etc. Conheço um jovem super idealista assim, que é amigo de meus filhos. É um advogado que só atende e defende movimentos populares de ocupação de terrenos.

Obviamente, nem Direita nem Esquerda são demonstrações da "ignorância política" de quem é simpatizante com essas ou aquelas ideias. Também não são sinônimos de Corrupção. Corrupção combina com falta de caráter, falta de ética, falta de moral. Na prática, isso se materializa em "obras públicas". Volto a dizer, quem se alinha com o pensamento de esquerda ou de direita só o faz por identificação pessoal com essas ideologias, não por burrice ou falta de caráter.

Não conheço pessoalmente nenhum patife que seja de esquerda ou de direita. Todas os meus conhecidos de quem descobri as simpatias pessoais e identificação com essa ou aquela ideologia (graças ao que postam ou comentam no Facebook!) são, no geral, pessoas de ótimo caráter, encantadoras, muitos deles com cultura bem acima da média. No entanto, ao defender o Bolsonaro e crucificar o Lula (ou o contrário disso) comportam-se como se estivessem sido mordidos por cachorros hidrófobos.

Por isso, enfureço-me com comentários depreciativos que parte expressiva da "Intelligentsia" brasileira faz aos que não comungam de seu credo político. Como o comentário que vi o deputado cuspidor Jeep Willis fazer sobre um jovem extremamente bem articulado e com raciocínio consistente, cujos únicos "defeitos" seriam a juventude e o fato de ser de direita. Pois bem, Sua Excelência - um modelo de controle emocional -, entre outras críticas, acusou o jovem de "ignorância política". Por dedução, pode-se dizer que o deputado se acha o mestre dos mestres, o senhor dos anéis (ou do anel).

Há também as manifestações inflamadas e pródigas em perdigotos do ator José de Abreu. Ou os discursos do senador Lindberg Farias contra qualquer medida que possa ser benéfica ao país. Pelo menos no Brasil, quem é de esquerda é pródigo em manifestar desprezo por quem não pensa na mesma linha. E se o bacana tem alguma influência ou é ator, escritor, músico com alguma fama, aí é que a coisa piora. Para essa moçada a coisa mais fácil é chamar alguém de fascista (ou "fachista", como se a língua daqui fosse o italiano. Para mim, fachista ou faxista é o sujeito que fabrica aquelas faixas que são amarradas nos postes, logo removidas pela prefeitura). 

Estou de saco cheio desse preconceito! Aliás, se tem alguma coisa que me tira do sério, que me enfurece até o nível máximo é perceber ou sentir que alguém está sendo menosprezado, humilhado ou desprezado. Depois de perceber que sou de centro-direita (eu me achava apenas de centro), sinto-me também ofendido e emputecido com a forma como gente de esquerda trata ou se refere a quem é de direita. Grosseiramente falando, o sujeito de direita seria o leproso bíblico dos tempos atuais, um pária, alguém que deve ser mantido à distância.

Já faz algum tempo que descobri um texto de um político inglês, que reclama e explica de forma muito mais elegante o que estou tentando dizer. Segundo a Wikipédia, Daniel Hannan (esse é o nome) é jornalista e "membro do Parlamento Europeu representando o distrito eleitoral do sudeste da Inglaterra pelo Partido Conservador". Nesse artigo ele diz o seguinte:

(...) "a maioria das pessoas de Esquerda é sincera nos seus compromissos assumidos com os direitos humanos, a dignidade da pessoa humana e o pluralismo. Minha animosidade com muitos (não todos) esquerdistas é algo mais simples. (...) ao assumirem uma superioridade moral, tornam o diálogo político praticamente impossível. Usar a alcunha “Direita” querendo que isso signifique “algo desagradável” é um pequeno mas importante exemplo".

No original:
(...) "most people on the Left are sincere in their stated commitment to human rights, personal dignity and pluralism. My beef with many (not all) Leftists is a simpler one. (...) by assuming a moral superiority, they make political dialogue almost impossible. Using the soubriquet “Right-wing” to mean “something undesirable” is a small but important example".

No mesmo artigo, esse deputado critica a visão de alguns esquerdistas  de que Direita é sinônimo de "vilania" (synonym for “baddie”). Usando uma expressão do Gilberto Gil, o que tem de gente que se "arvora a ser Deus" não está no gibi. E é aí que mora minha implicância e esta é a mensagem que encerra este post aguado:

O simples fato de alguém ser o fodástico em sua profissão ou atividade principal, não implica na obtenção automática de um passaporte de santo ou de dono da verdade eterna. E é isso que a moçada de Esquerda tenta sacramentar.



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