sexta-feira, 27 de maio de 2016

CRÔNICA DA MORTE ANUNCIADA

Você sabe o que Joaquín Salvador Lavado Tejon, Henrique de Souza Filho, William B. Watterson II e Arnaldo Angeli Filho têm em comum? Não sabe nem quem são eles? Vou aliviar um pouco: eles são mais conhecidos como Quino, Henfil, Bill Watterson e Angeli. Melhorou agora? Ainda está complicado? Difícil, heim??

Esses quatro cavalheiros são os cartunistas que criaram os personagens Mafalda, Os Fradinhos, Calvin e Hobbes (ou Calvin e Haroldo) e Rê Bordosa. Agora, se você disser que ainda está em dúvida, acho que seu negócio é procurar uma revista Caras para ler (folhear, melhor dizendo) ou dedicar-se mais um pouco ao seu grupo de WhatsApp.

Falando um pouco mais sério, os quatro cartunistas citados têm em comum, além da genialidade, o fato de em algum momento terem parado de desenhar seus personagens. Quino afirmou que não voltaria a desenhar Mafalda agora porque "os jovens de hoje estão desiludidos e não querem mudar o mundo para melhor, ao contrário da década de 1970, quando nasceu a personagem". 

Há quem diga que Angeli "matou" a Rê Bordosa porque a popularidade da personagem ficou tão grande "que ela estava perdendo a sua essência e que os editores queriam torná-la produto para a grande massa, tornando sua linguagem simples e estampando-a em lancheiras, cadernos e outros produtos. Sendo assim, o cartunista teria resolvido dar cabo da vida da porra-louca

Henfil ficou meio dividido: primeiro, o fradinho Baixim deu uma banana para os leitores do Pasquim e saiu de cena. O fradinho Cumprido pôde então se esbaldar, até ver que o Baixim tinha voltado. Ao abraçá-lo, vem um caminhão e mata os dois, que param sucessivamente no céu e no inferno, tendo sido expulsos dos dois. Não me lembro mais se continuaram a ser desenhados no Pasquim, pois o Henfil foi para os Estados Unidos, voltou, criou a revista Fradim (com histórias hilariantes dos fradinhos) e morreu. 

O certo é que em algum momento esses artistas geniais pararam definitivamente de desenhar seus personagens. Cada um teve seu motivo e saber qual foi não vem ao caso. A única certeza é que eram magníficos, reflexivos, engraçadíssimos, sensacionais, sucessos de público e de crítica.

Quando criei o Blogson por sugestão de um dos filhos, a primeira coisa que me ocorreu foi aproveitar as toneladas de bobagens que tinha encaminhado para minha família e mais três amigos. Isso até que funcionou, pois me diverti bastante divulgando posts diários, revisando, alterando, descartando, enxugando, ampliando, etc. Até hoje ainda tenho algum lixo inédito. Alguns, jamais poderei divulgar, pois, nesses tempos enjoativamente corretos, correria o risco de ser, no mínimo, execrado, excomungado, admoestado ou até processado. Fazer o que, não é mesmo? "Va', pensiero, sull'ali dorate"!

Mas tenho sentido um tédio, um desencanto com os rumos do blog. Me pego pensando sobre o que publiquei e surgem as inevitáveis perguntas: para quem eu escrevo? A quem desejo impressionar? Tenho realmente alguma coisa a dizer? Isso tem alguma relevância? E as respostas que encontro são respectivamente "não sei"; "todo mundo?"; "não" e "não".

Diante desse quadro, lembro-me de três textos que encontrei na internet.  O primeiro, premonitório (porque foi utilizado no terceiro ou quarto post do Blogson), diz o seguinte: "Porque eu escrevia já não sei, algo de vaidade, esforço pra ser diferente, ousar o título de poeta, intelectual, deixar marcas na vida quando eu me for. A ideia de ser um cara genial, com ideias avançadas e futuramente escrever no Estado de Minas e aparecer no Jô Soares pode ter funcionado como catalisador... Mas como isso tudo é muito estúpido e sem sentido, penso que acabei por naturalmente perceber que não havia porque escrever". O autor é Rafael Prosdocimi.

O segundo é de autoria do celebrado Bukowski, a quem prestei minha reverência justamente pelo texto de onde foi extraído este trecho (na verdade, poderia transcrever todo o poema): "não sejas como muitos escritores, não sejas como milhares de pessoas que se consideram escritores, não sejas chato nem aborrecido e pedante, não te consumas com auto-devoção".

E o terceiro é uma frase que pincei do blog "A Marreta do Azarão". Comentando uma frase bem bolada de algum anônimo, teve o seguinte espasmo: "Ah, a genialidade das grandes sacadas condensadas nas pequenas frases... e eu, aqui, insistindo em meus quilométricos textos, que não têm mais nada a dizer".

Deu para perceber onde quero chegar, não é? (se alguém responder "dei", vai pegar mal). Tenho pensado em acabar com o Blogson, um blog que tem apenas sete(!) pessoas que o visualizam com alguma frequência. E, constrange-me dizer, nem minha mulher se interessa mais em ler o velho Jotabê. Talvez porque eu não tenha mesmo nada mais a dizer (se já tive algum dia). Talvez o bom senso esteja com ela. 

Os "produtos" do blog com melhor aceitação são os textos relacionados às minhas lembranças. Portanto, não adianta forçar a barra: não sei mesmo fazer humor, sou apenas um contador de "causos". O problema é que as lembranças se esgotam!

Então é isso: longe de mim querer sequer me aproximar dos artistas geniais que citei no início. Também não pretendo equiparar-me aos autores dos textos transcritos. A única coisa que sei é que eu e o velho Blogson não estamos bem de saúde. No meu caso, talvez seja apenas cisma, talvez não seja nada. No caso do blog é "nada" mesmo o problema principal. Por isso, fica o aviso: o Blogson vai acabar. Talvez antes de mim, talvez depois, mas vai. Chega de solidão ampliada! 


5 comentários:

  1. Tédio com o rumo do blog? Vc não tem vergonha na cara, JB? Como é que o sujeito pode dizer que não sabe pra quem escreve? Tô dizenuuu rumm rummm, merecia era um "dislike". Brincadeiras à parte, faça o que tiver vontade JB, mas saiba que estamos aqui. Gosto e leio todas as suas postagens, todos os dias, então pra mim o Blogson e vc, claro, farão uma falta tremenda. Espero que vc saiba da influência e importância que tem na minha vida e dos seus leitores, bem como amigo (que eu considero). Se quiser queime tudo, mude e pinte as paredes, comece de novo, mas saiba que pode contar conosco.
    "J"

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    1. Não tenho palavras para expressar meu agradecimento pelo comentário. para ser sincero, tenho sim, mas estou meio sem vontade de escrever. É que às vezes bate uma neura, uma sensação de estar sobrando, que deixa tudo meio estranho e cinzento. Acabo me sentindo "redículo", infantil, imbecil, sei lá. Somam-se a isso os perrengues físicos (imaginários ou reais) e aí o caldo entorna. Mas fica um enorme agradecimento pelo comentário. Eu disse que não tinha palavras? Olhaí: :-D

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    2. Eu até ri desse sorriso Corega de velho banguela rsrs. Olha o meu ;) Muito mais chique, benhê. Já dizia o cara, o mal do fresco é a frescura e isso eu tenho demais. kkk

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    3. Tentando responder "todas" as dúvidas: Decidi mesmo parar de escrever no Blogson. Há mais de um motivo para isso: preciso me libertar desse poltergeist que me faz acordar às três da madruga para ver se alguém leu e comentou o post mais recente; tenho sentido algumas tonteiras meio cabulosas que me fazem pensar em algum tumor ou coisa parecida (estou consultando alguns médicos); tenho andado com uma impaciência e irritabilidade absurdas, além de uma memória recente que tem dado altas falhas. Tudo isso (mais as tonteiras) me faz pensar que talvez esteja tendo as “primeiras aulas de alemão”. Então, por via das dúvidas, vou botar fogo em Roma, não me esquecendo de dizer “que grande artista o mundo irá perder!” Mas o Blogson não será excluído da web. Ficará como uma ruína maia (parecida com o dono, que é hoje uma ruína “mala” – sem alça). Mas ainda tem muita tralha para sair. Se não mudar de ideia até lá (no meu caso, a coisa mais fácil do mundo), o “trânsito em julgado” ocorrerá no primeiro semestre de 2017. Gostei da frase do fresco, muito boa.

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    4. Vai porra nenhuma, vai ficar é com uma saudade abstêmica filha da puta e tenho dito.

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