sexta-feira, 31 de julho de 2015

COMIGO NÃO, VIOLÃO!

Em 1969, quando fazia cursinho pré-vestibular, um colega me mostrou um jornalzinho em formato tablóide, criado naquele ano. Era "O Pasquim”, e só tinha fera. A linguagem era totalmente coloquial. Como a censura comia solta naquela época, os caras começaram a criar alternativas para usar alguns palavrões ou expressões menos educadas.

O Henfil criou ou popularizou algumas palavras, como putzgrila e tutaméia, que dispensam apresentação. Outros colaboradores adotaram mifu, sifu, duca, "top top", cacilda e outras mais. O uso do asterisco foi importantíssimo para transcrição das entrevistas. Uma frase de carroceiro dita por entrevistado ou entrevistador podia ser escrita assim “vai (*) no (*)!” ou “(*) que (*)!”.

Resumindo: os caras chutavam o balde, mas evitavam ao máximo (ou tentavam evitar) problemas com a censura (leia-se ditadura). O que não impediu que quase todos os colaboradores fossem presos em 1970.

Porque estou lembrando essa tralha? Todos que me conhecem um pouco sabem que eu tenho uma obsessão obscena em me explicar (Freud deve explicar isso também). Por isso, aí vai mais uma. Algum tempo atrás, em um dia em que o bom senso prevaleceu, percebi que as coisas que escrevo de forma menos estúpida têm a profundidade de uma poça d’água e a densidade de algodão-doce (por exemplo). Por conta desse "insight", em virtude dessa qualidade e densidade (má e baixa, respectivamente) das bobagens que escrevo, eu (merecidamente) me comparei com duas antas literárias: um empresário de sucesso em BH (real) e o Conselheiro Acácio (ficção).

Por isso, vinha tentando criar um neologismo (ficou redundante) ou um novo personagem para me auto-criticar por conta de minhas “reflexões”. O Blogson já conta com o personagem "Jotabê", sempre utilizado para comentar as piadas imbecis e os trocadilhos infames que surgem em minha mente doentia. Por esse personagem ser um "sujeito" sem noção de ridículo, infantiloide, meio retardado e 100% "politicamente incorreto", tenho grande simpatia por ele. Até porque eu, José Botelho, tenho um perfil um pouco parecido com isso - meio infantiloide, um pouco retardado e 100% "politicamente incorreto". Por isso, apesar de ser uma ideia bastante esquizofrênica, achei que precisava de um personagem diferente.

Em BH existe um empresário de muito sucesso, que um dia acreditou que seus escritos e pensamentos eram tão bons quanto seu tino para negócios. O passo seguinte foi imprimir as "pérolas", emoldurar tudo e sair pendurando essas preciosidades em todas as filiais de suas empresas (essa é uma das vantagens de ser o dono). Por esse comportamento narcisista do empresário, eu poderia, talvez, utilizar as iniciais ou uma corruptela de seu nome, mas fiquei grilado (gíria antiga) de tomar algum processo. Eu sei que é paranóia, até porque ninguém lê mesmo o que escrevo, mas, sei lá, não quis correr risco. Como se dizia no Neolítico, "comigo não, violão!"

Uma coisa é certa: eu, pelo menos, jamais farei uma coisa semelhante. Primeiro, pela certeza de que meus textos não tem nenhum valor. Mas a razão principal mesmo é que não tenho grana para sair emoldurando meus pensamentos nem empresa nenhuma onde pendurá-los. Este é um dos motivos por que criei este blog (gênio!). E chega de tanta esquizofrenia! 



2 comentários:

  1. Respostas
    1. Os Ononos voltaram! Que bom! Obrigado pela leitura.
      Se você não entendeu de que se trata ou acha que eu enlouqueci, leia o post do link a seguir.http://blogsoncrusoe.blogspot.com.br/2014/07/onono.html

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