sexta-feira, 24 de julho de 2015

ANTI-SONETO

O que um neurótico puro-sangue faz quando resolve sair de sua "zona de conforto" (seja ela qual for)? Já pensa logo em explicar-se para quem nunca lhe pediu alguma explicação, começa a desculpar-se pelos erros que provavelmente ainda nem cometeu ou cometerá e morre de ansiedade e preocupação. Resumindo, sofre - e muito! - por antecipação. 

Eu sou desse tipo, pois sou neurótico real, de verdade, de carteirinha. Por isso, a preocupação de estar fazendo papel de idiota com o texto que será apresentado a seguir obrigou-me a fazer essa introdução antes, quase um pedido de desculpa pela ruindade do "produto". Minha zona de conforto no blog são os "causos", são as piadinhas e trocadilhos sem graça. Poesia, ficção, "literatices", definitivamente não são a minha praia.

Minha mulher sempre diz que eu explico demais, que eu falo demais. Acho que ela tem razão, mas é assim que eu sou. Às vezes eu brinco que sou muito interativo (usado como sinônimo de mala sem alça). Fazer o que, não é mesmo?

Já disse no Blogson (sou o rei da reciclagem e auto-citação) que "gosto muito de poesia e reverencio aqueles que conseguem transmitir emoção de forma concisa, minimalista. Os sonetistas então, esses são a nata, por conseguirem domar o esqueleto rígido do soneto. Em outras palavras, eu os vejo com o mesmo respeito que devoto aos neurocirurgiões. A coisa é mais ou menos como uma cirurgia feita no cérebro: o que falta em espaço sobra em restrições e cuidados a tomar. Ou seja, ambos conseguem o suprassumo da precisão e eficiência, tudo realizado em espaço muito reduzido".

O Millor, em uma entrevista, fez um comentário provocador ao afirmar que "Quando se deliberou que não haveria mais métrica e rima na poesia, toda senhora de 50 anos começou a fazer poesia".

Fiquei com aquilo solto na cabeça (estava sobrando muito espaço) e bateu uma vontade de aceitar o desafio de fazer um poema à moda antiga, com palavras e expressões em desuso, com rima e métrica, mais enfaixado que sujeito que operou a coluna. A opção pelo soneto foi imediata. E claro, seria dedicado à minha Amada.

Entretanto, por mais que ela seja minha musa inspiradora, “meu bálsamo benigno, meu signo, paixão de carnaval" (desculpe-me, Caetano), não saiu nada que prestasse, nada que rimasse, nada que se parecesse ao menos um pouquinho com o pior soneto já escrito até hoje (é óbvio que deve existir um assim). Mas acho que descobri o motivo: por conta da minha idade provecta, estou mais para expirado que inspirado.

E como não sou de jogar nada fora, resolvi agredir os 2,3 leitores do Blogson com o lixo que produzi (sou totalmente a favor da reciclagem). O resultado obtido está para um soneto de verdade como o personagem Bizarro está para o Super-Homem. O título do post já diz tudo. Vê aí.


Quisera saber fazer sonetos
p'ra cantar o que sinto por ela
Métrica justa, adequada, rimas ricas,
versos limpos em redondilha

(maior, menor, quem se importaria?)
alexandrino, estrofes isométricas
talvez. Mas que ficasse tudo certo,
“tudo esperto”, à la Vinícius de Moraes.

Invejei o engenho e a arte dos poetas
que criaram os mais ricos madrigais
Cantando seu amor por u'a donzela

Por nunca ser capaz, jamais
(tantas horas buscando a rima certa!)
de cantar uma beleza assim tão bela.


2 comentários:

  1. Desconfiei que você só esperaria a chegada oficial da sexta pra postar um texto novo e assim cumprir com a nova regra, pelo que parece acertei. Sobre o poema, há quem diga que o poeta é um fingidor inveterado, não discordo, mas sempre achei que a beleza dos poemas reside na franqueza da poesia. Em suma, muito bem e parabéns por ter se arriscado.
    "J"

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  2. Obrigado pelo comentário. Quanto ao horário programado da postagem, ele é decorrente de um TOC moderado que tenho: creio que 99% dos posts que já divulguei saem sempre à zero hora. Valeu!

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